sexta-feira, 16 de setembro de 2011

                                               Fraternidad e a Vida no Planeta



A Campanha da Fraternidade de 2011 levou a Prelazia de Óbidos a organizar um Seminário sobre mudanças climática que teve a participação de gente conceituada na exposição do tema. Uma dessas pessoas foi o assessor nacional da Cáritas e do Forum de mudanças climática e Justiça Social, Ivo Poletto. Sua reflexão foi profunda e, ao mesmo tempo, questionadora. Abaixo um pequeno resumo de suas ideias.



ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO OU DEFESA DA  AMAZÔNIA



Já estava preocupado antes, mas o que pude ouvir das quase duzentas pessoas que participaram do Seminário Mudanças Climáticas, promovido pela Prelazia de Óbidos me deixou preocupadíssimo. Mais do que isso: deu-me segurança para afirmar que os grandes projetos econômicos, incentivados a toque de caixa, pelo Programa de Aceleração do Crescimento na Amazônia, já estão, com certeza, acelerando o aprofundamento dos desequilíbrios socioambientais na região e a levarão a um desastre socioambiental incalculável.



Ao examinar, por enquanto em mapas, a quantidade de território amazônico que vai sendo e será coberto pelas águas das barragens, para produção de eletricidade; ao somar a ele a quantidade de áreas já ocupadas e desbravadas por mineradoras e as que estão em processo de concessão de alvará para pesquisa mineraria; ao somar, ainda, as áreas destinadas à pecuária e à soja do agronegócio; ao juntar essas informações, não restam dúvidas sobre essa parte e, talvez, sobre toda a Amazônia: se não houver oposição eficaz, ela será totalmente modificada e depredada, dentro de pouco tempo.



Quem assumirá as responsabilidades pelos efeitos desse processo sobre o aquecimento da região e de sua contribuição com o aquecimento global? Quem responderá as perguntas das próximas gerações, quando quiserem saber por que foram implementados esses grandes projetos, quando havia possibilidade de gerar energia, com fontes alternativas; quando já se devia diminuir a utilização de minérios; quando já existiam conhecimentos e possibilidades de produzir alimentos agroecológicos; quando já se sabia que o planeta exigia a diminuição do plantel de gado, por ser produtor de metano e ser grande consumidor de água e a fonte de alimentos ricos em proteínas?



Uma das grandes contradições do tempo em que vivemos é essa: a Terra, já em desequilíbrio, precisa que as atividades econômicas capitalistas diminuam seu ritmo, mas as empresas capitalistas, e muitos governos, teimam em aumentar o ritmo de “destruição produtiva”, visando um tipo de economia que exige lucros crescentes, juntamente com produção e consumo crescentes.



Esse conflito contraditório está absolutamente visível na Amazônia. Se os grandes projetos de exploração dos recursos da Amazônia – e praticamente só em benefício de grupos econômicos de fora do bioma -, forem executados, serão vazios e ineficazes, os compromissos anunciados pelo governo brasileiro e estarão fadadas ao fracasso, as políticas que anunciam objetivos de diminuição do desmatamento e de preservação da Amazônia. Se o governo quiser fazer algo sério, deverá partir de um fato já comprovado: não há possibilidade de acordo entre as necessidades e direitos da Amazônia e dos amazônidas e os interesses das grandes empresas capitalistas.



Por isso, os amazônidas que desejarem viver, junto com seus filhos e netos, nesse maravilhoso bioma, bem como as pessoas, igrejas, entidades e governos que desejarem salvar a Amazônia, como parte do que é absolutamente necessário para criar condições para que a Terra recupere seu equilíbrio em favor da vida, todos e todas, num grande mutirão cidadão, deverão lutar em favor de mudanças na visão e nas prioridades do governo federal e dos governos dos estados amazônicos.



Na verdade, todos e todas deveremos aceitar, que precisamos enfrentar, criticamente, e mudar a civilização capitalista em que fomos criados, abrindo-nos para outras formas de produção, consumo; outras formas de convivência entre nós, com os demais seres vivos e com a Terra, mãe de toda a vida.

Os povos indígenas da nossa América nos propõem o bem viver como caminho alternativo. Seremos capazes de acolher esta proposta que vem dos que foram sempre considerados os últimos dos últimos e que foram condenados, durante cinco séculos, ao extermínio? Diversas religiões e o cristianismo nos avisam: é dos empobrecidos, como Jesus, que vêm boas notícias.

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